Dias longos, noites longas.
-Alô, amor? Liga pro primeiro hotel baratinho que você encontrar e reserva quatro diárias para mim. Estou indo te ver!
Ela soltou um sim tão cheio de alegria, um sim tão esperado que fez meus lábios se abrirem num imenso sorriso. Desliguei o telefone com o coração na boca. Enfim íamos ficar juntas. Esses quatro dias valeriam por quatro anos. Depois de seis meses sem nos vermos, somente uma semana separava nossos corpos, nossas bocas e mãos. Quanta ansiedade!
- Mãe, não se preocupa. Minha amiga vai me buscar no aeroporto. Tudo pelo meu futuro profissional.
Se minha mãe me aceitasse como sou, ou ao menos tentasse entender e não proibi; Se não me tratasse como uma doente que precisa de cura, eu não precisaria mentir. Não é errado, não é pecado. É amor.
Embarquei ansiosa, pronta para largar as malas num canto qualquer e ir de encontro a minha pequena. Tomá-la nos braços, acariciar seus cabelos e beijá-la. Beijá-la muito.
-Oi moça, tenho uma reserva feita no nome de Sabrina Félix.
Subi as escadas correndo; Esbarrei num casal e nem me lembrei de pedir desculpas. Tinha algo muito importante a tratar: ligar pra ela e avisar que já estava a sua espera. Coloquei a chave na fechadura e ela travou. Droga! Mais uma volta e agora sim, porta aberta. Acendi a luz e qual não foi minha surpresa ao ver diante dos meus olhos um móvel que era um misto de banco de praça e um cavalo, num tom vermelho boca! Fiquei olhando aquilo por um breve instante, tentando imaginar qual a utilidade daquilo num quarto de hotel. Percorri o quarto com os olhos, na tentativa de achar algo mais comum a minha visão tão acostumada com quartos de pousada. Nada, nada me era familiar: Cama redonda, luzes neón, uma espécie de cofre atrás da porta cheio de guloseimas, colchão com estofado estranho, vidro separando o cama da banheira. De repente um estalo na minha cabeça. Motel! Era isso, eu estava num motel!
-Pequena, corre pra cá e venha ver onde me meti.
Não tive reação de fazer nada, apenas sentei-me numa cadeira e fiquei esperando ela chegar. Tocou a campainha e ao abrir a porta meus olhos encontraram aqueles olhos cor de amêndoas que eu tanto ansiava ver. Apertei-a num abraço tão apertado, tão saudoso que tive a impressão de nos sufocarmos mutuamente. Coloquei minhas mãos em sua face, tapando-lhe a visão e coloquei-a no meio do ambiente.
-Olha que hotel interessante você reservou pra mim! Temático, não!?
Sua cara de “o que é isso?” era impagável. Seu susto fora tão grande quanto o meu. So nos restava rir. E rimos, rimos muito de tudo aquilo. De toda a confusão. Caimos na cama de tanto gargalhar, rolamos no colchão.
- Sá, olha isso. Pêlos e cabelos no travesseiro.
Que nojo! Os travesseiros estavam cheios de fios alheios que se espalhavam pelo lençol. O colchão estava manchado e marcado. Nojo, muito nojo!
Desci as escadas, arrastando ela pelas mãos. Que lugar é esse? Que porcaria é essa?
-Moça, meu quarto está todo sujo. Tem pelos por todo lugar. Quero roupa de cama limpa, afinal estou pagando!
- Olha só, isso aqui é motel é???
- Sim, senhoritas. É um misto de hotel com motel. Todos na região são assim. Mas não se preocupem, mandarei trocar a roupa de cama agora!
Eu estava pagando pra ficar num motel que ainda por cima deixava resíduos dos outros pros próximos clientes? Não, isso não estava acontecendo comigo! Ah se minha mãe soubesse o que estava acontecendo com sua filhinha...Morte na certa!
Lençóis e fronhas novos, mas na dúvida cobri o colchão com a colcha q levei de casa e usei minha mochila como travesseiro. Certeza de que são limpos. Demorei a pegar no sono, pensando nos acontecimentos das últimas horas.
- Oh! Eu vou te comer toda, sua safada! Quer levar na cara, quer? Então toma! Cachorra, minha cachorra. Aaah! Oooh!
Meu Deus, isso não estava acontecendo comigo! Estava sendo acordada pelos gemidos e perversões do quarto ao lado. Eram tantos gemidos e obscenidades que eu me sentiria menos envergonhada se tivesse assistindo a um filme pornô com os amigos. Não, eu não merecia isso. Uma sinfonia de gemidos e grunhidos a noite inteira.
O que eu esperava também? Estava hospedada em um motel de quinta categoria. Seriam quatro longos dias e 4 longas noites. So me restava levar com bom humor e fazer dessa minha primeira ”experiência moteleira”.Tudo por amor...


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    Um emaranhado de pessoas, gestos, palavras, cheiros, sensações, lembranças e um toque de personalidade. Conheço meus limites e nem por isso me limito. Em eterna busca de mim... Será que um dia me encontro por ai? Sem querer rotular, já me rotulei...

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