Antes que me perca mais...
Pés no chão, cabelos desgrenhados, hálito de sono. Cortinas fechadas e aquele cheiro de café. Uma ideia persiste na cabeça: tenho que encontrar o que me faz melhor.
A mesma roupa de todo dia, o mesmo caminho. Ônibus cheio, pessoas e bichos. Bicho humano e seu odor fétido. O barulho do motor é agressivo; o empurra empurra das mulheres, irritante; O roçar dos homens me enoja. Eu aguento. Um dia novo para uma vida velha.
Abro as portas e espero. Que as horas passem, que as pessoas passem. Que passe tudo; dos anos aos séculos. Que passe a indiferença, a exaustão. A melancolia e a submissão. Passa, passa, vai passando. Vai correndo e marcando meu chão. Não, espera. Espera eu me descobrir, me achar. Espera minha limitação. Espera...
O relógio não para, corre. Cadeiras se arrastam, livros repousam, máquinas ligam e desligam. Alguém dorme enquanto outro acorda. Muitas palavras, fórmulas e papel. Riscos de tinta, forma e conteúdo. Giz! Desenha, rascunha e apaga. Eu queira ser tanta coisa e sou nada...
Olhos abertos, silêncio da noite. Carros que passam e pensamentos que voam. Tanta coisa pra ser dita, tanto eu pra expor. Meus olhos não são os mesmos, meu espelho já não me reconhece . Saidas e amigos não são tudo, eu já fui mais.
Vasculha, remexe, desarruma. Para e pensa. Alinha as ideias, reformula, põe base. Arrisca. Sai da zona de conforto. Eu quero brilho, mostrar a cara. Foco!
Cansei...

Hoje eu acordei querendo uma encrenca. Vontade de puxar conversa, de xingar pessoas. Acordei pra colocar a boca no mundo, pra gritar, descabelar a minha mãe. Meu ovo ta virado, to munida de insultos. Palavra e palavrão. Não to afim de sorrisos falsos e amarelos. Prefiro uma escarrada. Que seja na cara, que seja sincera. Não, Não e não! Odeio negação.
Tem gente que me irrita, tem coisa que me grila. Mas eu vou levando. Hoje eu resolvi baixar o nível, jogar pra fora, vomitar essa indignação. Foda-se se vão me amar, Foda-se se me odiarão. Foda-se, foda-se e foda-se! Vamos fuder?
Eu não nasci pra “nhem nhem nhem”, não sei brincar de cinderela. Frescura me cansa; fala mansa me cansa; “ogrisse” me cansa. Mundo rosa eu repudio; conto de fadas na vida real não acredito. Gente me encanta. Mulheres me assustam e homens me intrigam. Crianças me roubam sorrisos. Gargalhadas. Por isso conservo a criança que há em mim, pra sorrir e gargalhar por dentro. É, eu não choro por qualquer um.
Cansei de ouvir lamúrias, de remediar tristezas. De dar fim a dores que não existem. Cansei de mostrar que a vida é bela. Tem gente que nunca vai entender, vai sempre chorar, soluçar, entrar em prantos. E nunca, jamais, será capaz de ter os olhos brilhando. Esse brilho é pra poucos, quiçá pros loucos. Esses sim sabem viver. E vivem, como vivem! É, em outra vida eu quero ser louca. Por isso nessa eu to fazendo estágio, me preparando, trabalhando meu interior. Libertando meu espírito, aquecendo o coração. To sendo criança, velha, homem e bicho. To misturando tudo e criando uma poção: Eu. Essa que não troco por ninguém. Em outra vida eu troco pela loucura!
O problema deve ser comigo, ou quem sabe a solução. Eu choro, fico na fossa, entro em depressão. Não canto, não encanto. Paro de viver. Mas uma hora eu me toco e retoco. Boto música, enfeito a alma. Floresço meu jardim, rego meus amigos e planto vida nova. Nova, novinha em folha. Boto carão, escancaro nos sentimentos e renasço. Mas tem gente que não. Reclama de tudo, só vê defeito no mundo. Não acredita nas pessoas, situações e destino. Só chora, chora e chora! Quer ficar entre as cobertas, em um mundo cinza. Deixa as janelas fechadas, as plantas morrerem e secam por dentro. Param de sentir o ar, o sangue correr. Vivem em função da espera. Esperam um mundo novo, uma vida nova, um amor novo. Sim, elas simplesmente esperam. E isso me irrita. Me dá vontade de gritar, de xingá-las, colocar a boca no mundo, descabelar a minha mãe. Virar o ovo, me munir de insultos. Palavra e palavrão.
Quer? Então faça acontecer! Eu cansei de aconselhar, de dizer “não é bem assim”, “vai, tenta, insiste”. Cansei de falar a toa, de mostrar que tudo tem seu valor. A vida não é feita de amores, namoros e carências. Não a minha. Meu viver ta recheado de amigos, lugares e sensações.De momentos,cheiros, beijos, carícias e tesão. Não, não é pecado! É viver!
Hoje foi o último dia. Acordei querendo encrenca mas não causei. Decidi parar por aqui. Pra mim já deu. Falei e repeti. Cansei. Esgotei. Cheguei no meu limite. Agora foda-se! Cada um vive como quer...

Alôs e beijos
Não é doença, nem paixão. Muito menos amor. É encanto, encontro de almas. Vidas que se esbarram, amigos que se fazem. São histórias, casos, beijos e abraços. Alôs e tchau´s. É nada, porém, tudo.
É um pensamento longe, recheado e vagando. São encontros e despedidas, frases de todo dia, palavras ditas. É o arrependimento das entrelinhas, da não explicitação. Suor das mãos, boca que se abre, som!
É uma possibilidade que voa, voa..

Vai, sai de mim e pousa em outras mãos.

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    Um emaranhado de pessoas, gestos, palavras, cheiros, sensações, lembranças e um toque de personalidade. Conheço meus limites e nem por isso me limito. Em eterna busca de mim... Será que um dia me encontro por ai? Sem querer rotular, já me rotulei...

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